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Órgãos Sociais querem fazer mais e melhor no mandato que agora se inicia
27 Março 2025Estão empossados os Órgãos Sociais do Comité Paralímpico de Portugal para o quadriénio 2025-2028. A cerimónia realizou-se esta quarta-feira, 26 de março, no Palácio Conde d’Óbidos, em Lisboa.
José Manuel Lourenço não escondeu a emoção de, perante uma sala repleta de ilustres convidados, amigos e familiares, assumir mais um mandato, o seu terceiro, e ciente de que continuará a precisar de muita dedicação e resiliência para dar continuidade a um trabalho que tem merecido rasgados elogios.
«Ao iniciarmos este mandato, temos a consciência e, com isso muito nos congratulamos, de que foi já percorrido um longo caminho no sentido do reconhecimento dos movimentos Paralímpico e Surdolímpico Portugueses, nas suas múltiplas dimensões. A mais simbólica, mas também mais importante, diz respeito à equidade de condições entre as dimensões paralímpica e olímpica, nas bolsas, nos apoios à preparação e nos prémios de mérito desportivo», começou por afirmar o presidente do Comité Paralímpico de Portugal, mas não reclamando os louros dos progressos para a sua equipa:
«No ciclo Paris 2020-2024, entregámos os melhores resultados desportivos alcançados em Jogos Paralímpicos desde a fundação do Comité. Fruto de muito trabalho das federações, dos clubes e associações, mas em particular dos atletas e da sua excelência desportiva. Não reclamamos os progressos registados apenas para o mandato que agora terminou, pois trata-se de um percurso de muitos anos, iniciado no final da década de 60, com a introdução do desporto como processo de reabilitação de traumatizados da guerra colonial e, também, com a constante afirmação do direito à prática desportiva por parte de pessoas com deficiência. Os movimentos paralímpico e surdolímpico não significam apenas desporto, são movimentos humanistas, em que pessoas trabalham no sentido de um mundo mais inclusivo e onde prevaleçam o diálogo, a equidade, a diplomacia e a paz.»
«Consciente do muito que foi feito», José Manuel Lourenço reafirmou a responsabilidade de contribuir para a mudança de um paradigma vigente e trazer mais pessoas com deficiência para a prática desportiva.
«As estatísticas nacionais e europeias demonstram que a prática desportiva por parte da população com deficiência é muito inferior ao restante segmento da população. Diria mesmo que é quase residual, o último número que tenho é menos de 0,5% de acordo com dados do IPDJ. A democracia constrói-se também com igualdade de oportunidades e neste universo é evidente que não existe igualdade de oportunidades», fez notar, voltando a insistir na necessidade premente de inverter a crescente tendência de falta de atletas. E neste particular deu ênfase ao círculo familiar:
«É urgente vencer barreiras, e não falo apenas de barreiras arquitetónicas, que são seguramente importantes, mas acredito que as mais difíceis de vencer são as barreiras sociais. E é com essas que temos diariamente de trabalhar para mudar o atual paradigma. O desporto paralímpico e surdolímpico confronta-se com um grave problema de recrutamento e de renovação, o qual, se não for invertido, comprometerá o futuro destas dimensões desportivas. Estou convicto de que o trabalho conjunto do Comité, das federações, dos clubes e com campanhas de sensibilização direcionadas a esta camada da população e às suas famílias nos irá trazer bons frutos ao nível do alto rendimento desportivo. Falei nas famílias porque estou convencido que serão a chave, será através delas que conseguiremos trazer mais pessoas com deficiência à prática desportiva.»
O presidente do Comité Paralímpico de Portugal pediu também urgência na apresentação de uma estratégia nacional para o desporto que contemple todas as dimensões desportivas e abordou a questão do financiamento.
«Insisto no que tenho afirmado: é importante que o financiamento do desporto para pessoas com deficiência se concretize em contratos adicionais específicos, que dotem as federações dos meios que lhes permitam recrutar e detetar talentos», resumiu.
As linhas mestras do mandato
José Manuel Lourenço não deixou de elencar as linhas mestras do mandato que agora se inicia, deste logo «a prioridade no apoio ao desenvolvimento desportivo e ao projeto Esperanças e Talentos, de forma que, a partir destes, se possa preparar e projetar a participação em Jogos Paralímpicos num horizonte mínimo de oito anos».
Trabalhar para melhorar as condições para os atletas, apoiar projetos de reconhecido valor desportivo promovidos pelas federações, com o objetivo de formar/preparar desportivamente jovens atletas, incrementar a convergência com outras instituições de cúpula do desporto nacional no sentido de promover mudanças no atual panorama do desporto, de modo a potenciar o aumento da prática desportiva e retirar o País das últimas posições do pelotão europeu são temas igualmente em cima da mesa.
Tal como a operacionalização do contrato-programa de apoio ao desenvolvimento desportivo 2025-2028, para, através dele, «apoiar projetos estruturantes para o desporto para pessoas com deficiência».
«Creio que temos aqui uma oportunidade única de envolver clubes, associações e entidades que hoje estão de alguma forma arredadas por falta de meios», notou a este propósito.
Não menos importante será contribuir «para a alteração da legislação do dirigente desportivo, para que também aqui se possa processar a renovação e a criação de condições de trabalho que, hoje em dia, não são compatíveis com o tradicional modelo de voluntariado».
«Importa que se dignifique a função do dirigente desportivo e que se reconheça o seu importante papel no desporto. O trabalho voluntário vale milhões de euros anuais ao Estado, mas este não tem tido a capacidade de o reconhecer», invocou.
Os próximos não servirão também para estimular a produção de conhecimento e parcerias com a academia, porque mais e melhor conhecimento em diversas dimensões se exige.
«É preciso investigação que melhor compreenda o fenómeno desportivo no seu todo e o desporto para pessoas com deficiência em particular», defendeu José Manuel Lourenço, acreditando que a construção do Centro de Inovação, Investigação e Desenvolvimento Paralímpico será um polo estruturante no qual as pessoas com deficiência - e todos os agentes desportivos - se possam rever e, porventura, serem estimuladas para a prática desportiva.
Em ano de Jogos Surdolímpicos, o presidente do Comité Paralímpico de Portugal defendeu ser «igualmente prioritário neste mandato a normalização do programa de preparação surdolímpica».
«Que, nos últimos anos, não tem tido o apoio e reconhecimento que julgamos ser adequado. Não podemos continuar a assinar contratos no último mês do ano e, com isso, prejudicar a preparação dos atletas e o trabalho das federações. A solução encontrada em 2015, com contrato plurianual, parece-nos a mais ajustada e a que garante previsibilidade para todos os agentes envolvidos», observou.
O Comité Paralímpico de Portugal pretende também promover junto do Instituto Português do Desporto e da Juventude a necessidade de as ações de formação de treinadores serem mais ambiciosas nos conteúdos formativos relacionados com atletas com deficiência e também reforçar o trabalho com o desporto escolar, o qual, defendeu José Manuel Lourenço, deve tornar-se no verdadeiro viveiro de novos atletas.
«Nesse sentido, é importante que haja uma melhor articulação entre as instituições desportivas e o desporto escolar. Estamos disponíveis e pretendemos ser parceiros ativos neste desiderato. Podem contar connosco», assegurou.
Trabalhar em conjunto com as federações na programação da preparação para os Jogos Paralímpicos Los Angeles-2028 e Brisbane-2032 e Jogos Surdolímpicos Tóquio-2025 e para os de 2029, ainda sem cidade organizadora, para garantir as melhores condições possíveis de preparação e a equidade entre os diversos programas financiados pelo Estado, sempre numa atitude de transparência com todos os agentes envolvidos e em particular com os atletas, é outro objetivo importante a concretizar neste ciclo.
Tal como aprofundar o programa de desenvolvimento da classificação desportiva para um maior e melhor conhecimento, contribuindo, assim, para uma classe mais justa e para uma maior verdade desportiva.
José Manuel Lourenço deseja ainda aprofundar parcerias com as autarquias, responsáveis «por uma grande fatia do desenvolvimento desportivo nacional, também no que diz respeito ao designado desporto para pessoas com deficiência».
Não menos importante é potenciar a imagem do Comité Paralímpico de Portugal.
«Pretendemos, igualmente, melhorar ainda mais a forma como comunicamos, de modo a garantir maior retorno aos nossos parceiros e patrocinadores. É muito importante que as empresas vejam no Comité Paralímpico de Portugal um parceiro com potencial para investimentos de patrocínio ou em áreas de responsabilidade social», afirmou, pedindo a revisão da legislação que regula o mecenato e os respetivos benefícios fiscais por forma a torná-la mais atrativa para as empresas.
«Contem com a nossa colaboração e empenho no sentido de contribuir para a criação de melhores condições e colaborar, através dos nossos meios, para mais e melhor desporto», prometeu José Manuel Lourenço.
Ilustres convidados
Na cerimónia de tomada de posse marcaram presença, entre outras personalidades, o vice-presidente da Assembleia da República, Rodrigo Saraiva, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, o presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Filipe Santana Dias, a vice-presidente da Câmara Municipal de Loures, Sónia Paixão, o presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude, Ricardo Gonçalves, o presidente da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto, Rodrigo Cavaleiro, o presidente interino da Autoridade Antidopagem de Portugal, António Júlio Nunes, e o presidente do Conselho Económico e Social, Luís Paes Antunes.
Nota, igualmente, para as presenças de Fernando Gomes, recém-empossado presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e de Rosa Mota, que agora integra a Comissão Executiva do COP.
Manuel Brito, que, entre outros cargos, esteve à frente do então Instituto do Desporto de Portugal, do Conselho Nacional Antidopagem, do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto e do Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto, também assistiu à tomada de posse, tal como António Saraiva, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.
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